Do lixo que ajudei a produzir
José, João e Matias...
Que passam por nossos olhos, todos os santos dias.
Mas só passam,
Porque nossos olhos fingem que não os ver.
_ Moça, me dá dez centavos?
Dilema da sociedade: dar ou não dar?
Melhor não dar, se acostumam e não querem mais trabalhar.
Digo que não tenho e pergunto por seus pais.
Apontam para a esquina, vejo o pai, observo que não é nenhum explorador da boa vontade alheia, é apenas um catador de lixo.
Arrependo-me de ter dito "não" e digo que vou trocar o dinheiro.
Meu dilema: dar ou não dar?
Dar vicia. A nossa sociedade já está viciada: bebidas, drogas, prostituição, corrupção...
Então procuro não contribuir com o vicio.
Compro um pacote de biscoito, saio do mercado, e eles não estavam mais lá.
Tudo bem, a vida é deles, não tenho nada com isso e nem posso resolver.
Uma semana se passou, e encontro-os fazendo carrego.
Eles estavam tagarelando com a dona das compras, e o pai atrás catando lixo nos vasilhames que encontrava. Com certeza os garotos já sabiam que a sociedade não permite pedintes ou foram a alguma missa em que o padre falou: “O homem deve comer do pão do seu suor”.
Homens?
Dei um real ao pai e disse que era para comprar biscoito, que eu devia aos garotos.
Lavei a alma. Dei ponto final na história, afinal o que posso fazer?
Posso ou não posso?
Conheço um cego, seu oficio, tocar sanfona. Seu sonho: enxergar, nem que seja por um minuto para poder vê os seus filhos (confidenciou). Pensei: (pelo menos não enxerga as
mazelas da sociedade). Maldade da minha mente. Ele nunca sentirá a alegria de vê o sorriso de uma criança, dos seu filhos e netos..
Fotografei (mentalmente) o sorriso dos meninos, porque apesar de produzirmos lixos: desigualdade social, preconceito, ambição, egoísmo, às crianças ainda conservam almas puras, e não foi à toa que o Mestre os defendeu "Deixem que as crianças venham a mim" Matheus 19.(13-15).
Fotografei-os (mentalmente) tomados banhos, com roupas limpas. Não sei, se roupa e banho dão felicidade, mas com certeza dar um pouco de dignidade!
Então descubro que meus olhos estão cheios de cisco e que é preciso enxergar os filhos da fome, da miséria, que ajudamos a construir.
E entro no sonho dos nossos governantes de acabar com a fome do nosso país.
Sonho?!
Seria realidade se os políticos tivessem seriedade e boa vontade.
E minha alma não enxerga a alma dos políticos, porque, eles podem realmente ajudar e nada fazem, provando que nada se faz quando a alma é pequena.
E como ficam os nossos guris?
Eles vão ficando, ali, acolá, porque o povo ajuda como pode.
E os políticos?
Se eles realmente se preocupassem com o povo com certeza pensariam como Abraão Lincolin:
"Eles não querem muito, só conseguem pouco e eu preciso vê-Ios"
Telma Costa
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