Um sonho... após a vida...
A morte faz parte da vida.
Aparentemente a vida não faz parte da morte.
A vida tem sabor, beleza, perfume, música e o toque do amor.
Teoricamente na morte o corpo não sente, não ouve, não vê, se esvazia todos os sabores e perfumes.
Dos meus nove anos aos dezessete, eu tinha que dormir com minha avó, separada e cardíaca,como na casa não existia cama de solteiro, dormíamos juntas. Muitas madrugadas eu ficava a observar a sua respiração com medo que ela morresse.Cena de terror imaginária" Acordar com minha querida vovozinha, mortinha . DEFUNTA."
No dia da sua morte, que não foi na sua cama e sim no hospital de Estância, presenciei o seu último momento agonizante, que me levou a passar dois anos dormindo de luz acesa com medo que o fantasma da minha querida avó se manifestasse.
Hoje como contadora de histórias ( Grupo Prosarte) tive algumas experiências relacionadas com a morte, podendo presenciar em quartos de hospitais mãos comungando a fé e a esperança na luta pela vida.
Lembro de uma jovem de 15 anos que ia se operar do coração. Na véspera da cirurgia passei a tarde no hospital, contei-lhe história e ela pediu a minha irmã que orasse por ela. Passados quatro dias, eu voltei ao hospital para visitá-la e sair deprimida. Uma enfermeira relatou-me que na manhã da cirurgia, a garota pediu a sua irmã que lhe fizesse uma trança para ficar bonita depois do operatório ...0 coração não resistiu. Guardei apenas a lembrança do seu último sorriso.
Não desisti das minhas visitas, senti que essa minha ligação com a morte faz parte da minha missão. A idade e as aparências dos doentes me enganavam com maestria, conheci idosos que eu pensava que iam morrer e jovens que pensava que iriam se recuperar logo, e como me enganei!
Diz a biblia em Ec1esiastes 11
Uns dos jovens que visitava, tinha 18 anos, alegre e comunicativo. Fiz-lhe visitas durante três meses. Algumas vezes encontrei-o abatido, sem fé achando que não sairia do hospital vivo.
Convidei a missionária Elisabeth Bacellar para ministrar a palavra de Deus que o deixou muito animado e esperançoso. Certa vez encontrando-o muito triste, dei-lhe de presente um livro infantil de minha autoria "Sementinha de Abóbora", ele adorou saber que eu escrevia e disse que mostraria o livro aos amigos quando retornasse a cidade. Doce esperança "quando voltasse pra casa"
Neste dia avisei-lhe que iria passar 15 dias sem visitá-Io e quando voltasse queria a noticia da sua alta. Vinte dias depois desta despedida tive um sonho esquisito e quando acordei senti que alguém passou a mão nos meus cabelos. Chorei. Esperei amanhecer e liguei para o hospital, pedi informações, e a atendente disse "sinto muito".
APENAS 18ANOS E TANTOS SONHOS... Orei pelo seus familiares e sentir no meu coração que a morte não é o fim. .
Qual seria o sentido da vida se a morte anulasse nossos sonhos e projetos?
Conheci um garoto lindo como a luz do sol ( 12 anos). Toda vez que eu voltava do hospital, contava aos meus filhos sobre a sua força de vontade, o sorriso, a energia que ele passava apesar do sofrimento de longos meses.
Por que será que só damos valor a vida através do sofrimento?
Em um dia de domingo, acordei triste, com um aperto no coração, pensei em visitar meu amiguinho, convidei minha irmã missionária para irmos à tarde ao hospital. Na hora do almoço tomei uma taça de vinho, dormi, e deixamos a visita para o outro dia.
A morte não tem hora, o coração fala e a gente não ouve.
Relatar essas experiências faz doer o coração, mas acredito que coração que não dói é porque está morto.
Um dia...
Meu sonho de vivente...
Que todos tenham o mesmo conforto nos hospitais.
Que pessoas visitem mais os enfermos.
Que os médicos e os enfermeiros se vejam no olhar do outro.
Um sonho... Após a vida...
Eu morta contando histórias para Jesus e seus anjos.
Quem sabe Sementinha de Abóbora... E outras histórias...
Telma Costa
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