Esta é a casa em que eu e meus irmãos nascemos, que fica
situada no Bairro Alagoas em Estancia Sergipe. O Bairro Alagoas hoje é
populoso, mas quando eu era criança a maior parte era de sítios e foi meu pai
que levou o progresso para o Bairro loteando o sitio dele e os vizinhos fizeram
o mesmo.
Mas o mais interessante dessa foto é ver o estado da casa
que eu vivi até os meus doze anos e pensar o porquê que meu pai era conhecido
como uma pessoa rica. Um rico iria morar numa casa dessas com quatros filhos,
esposa, avó e avô paternos, duas tias e afilhadas que moravam conosco? Ou a
riqueza de 40 anos atrás era considerada diferente de hoje onde as pessoas
ostentam carros e mansões?
Naquela época meu pai conhecido como sr Domingos dos Cocos ou Domingos de Birrola, tinha duas caçambas, um caminhão e uma
rural , todos os veículos eram usados para o trabalho, para gerar riquezas.
A riqueza da época era ter posses de terras. Você podia
morar numa casa como esta , mas se tinha mais de cem tarefas você já era
considerado rico.
Esta nossa casa era mal-assombrada, tinha espíritos que nos
cutucava a noite e às vezes jogavam pedras no telhado. Benzadeiros e
umbandeiros iam sempre lá fazer a limpeza dos maus espíritos. Era um terror
viver com os seres invisíveis. Mas tudo bem, eu acho que pior são os vivos, os
mortos só queriam se comunicar e a gente que não entendia eles.
Vou fazer a descrição dos cômodos da nossa casa: do lado
direito ficava o deposito de coco; na parte central, o escritório de meu pai
que tinha um cofre enorme de ferro para guardar o salário dos empregados.
Talvez esse cofre foi a origem da fama da riqueza de meu pai. Risos. Todos
queriam saber o segredo desse cofre...
Depois do escritório ficava o quarto dos meus pais que tinha uma porta de acesso ao escritório. Depois vinha um quarto pequeno que ficava eu, Nena e Lico. Em seguida a cozinha e sala. Do lado esquerdo da foto era o quarto maior que ficava Tânia, Dita, Tia Selma, Gilda, Maria Jose e os parentes que chegavam( depois dos 10 anos fui dormir nesse quarto, era o mais divertido). O pior de tudo era que os banheiros ficavam no quintal e a noite a gente tinha que fazer uso do penico. Bem diferente de hoje onde todos tem seus quartos e banheiros. Nem todos, infelizmente.
Nesta época meus avós já tinham se separado, minha vó foi morar na casa de um irmão e meu avô com a outra companheira, eles se separaram quando eu tinha 3 anos e nem sei como era a dinâmica da casa na época deles. Só sei que nessa casa humilde cabia todos os parentes, vizinhos e afilhados. Essa era a maior riqueza de meu pai, agregar a todos. Nunca negou um prato de comida pra ninguém. Ai nessa casa simples tinha fartura de comida e de acolhimento.
Talvez esse estilo de meu pai acolher a todos foi porque ele
perdeu a mãe com 9 anos e saiu de casa com 14 anos. Só Deus sabe o que ele passou. Quantas noites
de frios, de fome, de medo e quantas lágrimas ele chorou.
O que sei é que ele morou em Salvador, Minas Gerais, São
Paulo, Santos, Rio de Janeiro e que nessas andanças ele foi acolhido por muitos
e nas suas adversidades ele prometeu que sempre iria ajudar o próximo e acolher
a todos que faziam parte da sua vida. Claro que neste caminhar ele teve seus
deslizes, suas falhas, quedas e derrotas. Mas aí já é outra história porque a
desse texto é sobre esta nossa casa tão pobre e que o seu dono era considerado
tão rico.
Talvez fosse rico mesmo, pois, o melhor dessa nossa casa era
o fundo onde ficava o sitio que tinha goiabeiras, mangas rosas e espadas,
laranjeiras, coqueiros, jaca mole e dura, graviolas, jenipapos, milharal, bananeiras,
cafezal , plantas e flores. Essa era a
nossa maior riqueza: viver e brincar no
meio da natureza e das suas farturas.
Que lembrança linda! Uma riqueza de lembranças. Elas fizeram você ser as quem é hoje. Parabéns!
ResponderExcluirObrigada!! Paz e saúde!!🙏🙏
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