Azul Melancólico, Azul da Morte.
O Excêntrico Barba Azul!
Quem conta um conto, aumenta um ponto...
" O azul é uma cor fascinante que nos transporta ao infinito, e também ao estado melancólico, quando o céu muda do azul claro para o azul escuro que anuncia a tempestade."
Assim era o azul da barba de um certo cavalheiro, que morava num castelo no meio da floresta. A sua barba era longa e de um azul escuro, frio, que metia medo em quem ficava perto dele. Seus olhos também eram azuis escuros e talvez essa combinação trazia para o imaginário coletivo a presença de um ser misterioso. Minha mãe o chamava de " O Excêntrico Senhor Barba Azul".
Poucos se aproximavam dele e assim pouco se sabia sobre ele. Mas certo dia, recebemos um convite para conhecer o seu castelo, e assim fomos. Eu, minhas duas irmãs e nossa mãe... Fomos tratadas como princesas em meio a tantas riquezas e gentilezas.
Minha mãe ficou encantada, minhas irmãs também, mas disseram que sentiram um arrepio esquisito quando estavam no castelo.
Mas eu, jovem, impulsiva, influenciada por minha mãe, correspondi ao seu olhar.
Um arrepio atravessou meu coração quando fui pedida em casamento; mas aceitei, era o meu primeiro desafio para uma nova vida, longe dos familiares e com a ostentação de ser a esposa do Excêntrico Senhor Barba Azul.
No começo foi tudo lindo, com os dias de primavera com flores coloridas, e o verão em seguida, com o desejo forte da luz do sol. Depois, veio um forte inverno e o meu excêntrico esposo precisou viajar. Eu fiquei responsável pelo castelo com 200 cômodos e 100 empregados. Minhas irmãs vieram me fazer companhia e juntas nos divertimos visitando e conhecendo os segredos do castelo.
Dentro de uma minúscula gaveta do último cômodo que visitamos, tinha uma chave pequena e no mesmo cômodo um quarto pequeno que deveria nos levar para um possível lugar secreto.
Curiosas, abrimos a pequena porta e nos deparamos com a pior cena da psiquê humana.
Neste pequeno canto do grande castelo haviam ossos, corações e cabelos de mulheres. Nos abraçamos e choramos. No mesmo instante, o cavalheiro das trevas chegou da sua viagem invernal.
Percebendo que seu segredo fora descoberto, nos ameaçou de morte.
O azul que tanto me fascinou se desvenda em tempestade, com raios mortais. Assim, na pulsão da vida e da morte lutamos como guerreiras e vencemos numa luta descomunal, movidas pelo instinto selvagem de todas as mulheres que ali jaziam.
Arrancamos a barba azul, enterramos seu corpo e fizemos a oração do perdão. Fechamos a porta daquele quarto nefasto, enterramos a sua chave e voltamos para nossa casa, para nossa ancestralidade, levando ouro e o nosso segredo do excêntrico castelo e do seu dono, o meu falecido Barba Azul.
Dizem que por falta do seu dono as empregadas do castelo abriram as portas para os que se perdiam na floresta nas noites de tempestade. Assim contam... E a barba azul nunca foi encontrada. Assim eu conto.
Por Telma Costa - Setembro de 2022
Revisão: Suyane Costa
Adaptação do "Barba Azul " do livro Mulheres que correm com os lobos de Clarissa Pinkola Estés
Um exercício feito para o Grupo de Estudos da ASCH
Profª responsável: Dr Rosa Corumba - Psicóloga e membro da ASCH ( Academia Sergipana dos Contadores de Histórias)
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