Muito já se escreveu mas, na verdade, pouco se disse sobre a figura humana, inesquecível de Elísio de Matos, um dos intelectuais mais respeitados de Estância, neste século. Aqui ele nasceu e viveu durante sessenta e um anos. Aqui morrendo cumprindo sua missão na terra.
Pouco se disse sobre sua obra literária, principalmente como poeta estanciano e Sergipano dos bons. Voltado sempre para o pensamento e as coisas sérias da existência.
Elísio era um pensador, na melhor expressão da palavra. Como poeta, deixou extravasar sentimentos puros do coração; poetizava enquanto elaborava questionamentos, buscando, por vezes, ensejos mais nobres e mais altos do espírito.
Conhecia a vida em profundidade, para um homem do interior. Inteligente, buscador de verdade, não se deixou iludir pelas pompas e aparências efêmeras.
- A vida é porto, é passagem – dizia, consciente do seu próprio destino. E frisava:
- Daí a necessidade de vivermos de bem com a vida, aceitando todas as suas provações sem revoltas e sem mágoas, e, sobretudo, estabelecendo uma boa relação com Deus, para que a “irmã morte”, no dizer de Francisco de Assis, não nos pegue de surpresa.
Elísio poeta, cronista aplaudido, redator admirável, questionava a vida e o mundo, sem entender o porque de tantas provações. Mas ele, tão sincero e bom, espiritualista, aceitou as duras provas existenciais como etapas da sua própria evolução, em busca de uma vida melhor, aqui na terra como em “ outro plano”
Filósofo e mestre da melhor escola- a escola da vida- tinha contudo, plena consciência de que tudo se resume ao mandamento máximo de Jesus: “ o amor ao próximo como a si mesmo”, o bem vivido e praticado, na poética simplicidade de ser e de existir.
Elísio, autodidata, com enorme amor pelos livros e muita dedicação ao estudo, nunca em verdade parou de estudar e aprender: ele foi aluno e mestre de si mesmo.
Teve muitos e bons amigos, de todas as camadas sociais, ricos e pobres, intelectuais e iletrados. Escreveu centenas de boas crônicas, poesias, ensaios literários e um romance, que não chegou a concluir.
Certa vez, confessou a um colega de imprensa, que seu maior desejo era fundar um jornal cultural e continuar escrevendo coisas boas, passando a trabalhar somente pelo poder do espírito. O que mais lhe dava prazer era justamente o contato diário com os livros, escrevendo e servindo, na medida das suas possibilidades.Exemplo, para nossa juventude, de homem honesto e bem estudioso, ele nos deixou belas lições de vida, de amor vivido e praticado. Aprendendo sempre mais, para ser útil e servir melhor.
Mais do que merecida, portanto, esta homenagem ao vovô Elísio, como era carinhosamente chamado- figura tão querida e simpática em nossa terra, que dificilmente será esquecida.
(1988)
LIVRO CRÔNICAS DA VIDA- II
Daniel Fernandes Reis- pseudônimo Carlos Tadeu
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